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O Lobo das Vertentes – um ensaio sobre Toninho Ávila


Faz tempo que quero escrever um texto sobre a vida e obra do amigo Toninho Ávila, também conhecido como Lobo Bruxo. Na verdade, nesse tempo que já completa mais de meia década de amizade (all things must pass…), creio que esse texto já vinha sendo escrito, inconscientemente. Faltava só passar para o papel (ou para a tela do computador).
Quando me refiro a vida e obra do Lobo, não pretendo me aventurar em redigir biografias. Quero dizer que em torno da sua figura carismática e peculiar, parece difícil distinguir o que é vida e o que é obra. Porque não se nota essa “quebra” entre o que Toninho expressa artisticamente e o que ele atravessa no cotidiano. Seu viver diário é arte; e sua arte fala do viver: ele habita em ambos, o tempo todo.
Isso lhe confere uma espontaneidade e um entusiasmo invejáveis (todos se assustam ao constatar que o Lobo já habita as Vertentes Gerais por sessenta e tantos verões…). A meu ver, Toninho é desta categoria de artistas autênticos e viscerais, como Lennon ou Van Gogh – ambos, inclusive, já retratados pelo “animal” em algumas de suas pinturas.
A arte de Toninho em várias de suas expressões (performance do cotidiano, pintura, poesia, ecologia, vida) carrega algo de rústico e de natural. Por rústico, entendo a técnica que o artista emprega em tudo que faz. Para seus detratores, o caráter “rústico” seria visto como heresia, falta de capricho, ou irregularidade estética. Contudo, tal rusticidade ganha força na espontaneidade, na sua atitude integral de vida e obra imbricadas, como um tecido de múltiplas linhas e de intensa estampa. Rústico como o grito de Lennon em “I´m So Tired” ou “Mother”; rústico como as pinceladas de Van Gogh, rústico como o barroco da São João del-Rei, que é terra natal do Lobo.
 
É daí que brota (e essa palavra não está aqui gratuitamente) seu aspecto natural, fruto também da espontaneidade. Toninho se identifica com tudo que é tão natural como ele; daí seu encantamento pela natureza, pelas árvores, flores, cachoeiras, serras e pássaros. Sua mãe conta como, na infância, Toninho chorou ao ver uma árvore sendo cortada. Anos depois, seria ele o responsável pelo plantio de diversas delas por toda a São João. Sua militância ecológica data de antes das atuais discussões sobre o cataclisma ambiental – pauta ideológica talvez mais urgente em nossa época, dentre tantos bla-bla-blas vazios.
A forma de Toninho estar no mundo assemelha-se, por vezes, a uma intervenção poética, com algo de lúdico e poético a um só tempo. Seu jeito, sua fala, gestos e palavras estão fora do tempo, além do espaço, fora da ordem – ecoando toda a loucura e a magia de tempos imemoriais, e até de tempos futuros.
Seu tempo é tanto a contracultura sessentista quanto a contemporaneidade digital. Seu espaço é universal – ou alguém enxerga diferença entre as fotos de Toninho nas cachoeiras de São João-del rei e as imagens do Woodstock? Em uma de suas frases seminais, disse “Sou EASY RIDER, mas nunca saí de CASA, tá ENTENDENDO??”.
Seu projeto estético de vida e obra ganha força justamente nessa integralidade, nessa vivência intermitente, que é prova viva de integridade para sua arte. Toninho parece habitar dentro do arquétipo do demiúrgo moderno, seja ele o Knulp ou o Lobo da Estepe da literatura de Hermann Hesse; ou o “fool on the hill” dos Beatles; e até mesmo o eremita do antológico Led Zeppellin IV.
E não venha relativizar as coisas quando se aventurar a conversar com o Lobo. Não arrisque confundir “Jesus com Genésio”. Autêntico e provocador, Toninho sempre tem algo a dizer, e nunca deixa escapar de vista a ética, ainda que intitule seu caráter como “multipolar”. Tá na dúvida?
            – Ou EL ou NÃO-EL – já dizia o NOEL………   
*
Conheça mais sobre o trabalho do Lobo Bruxo em seu site oficial e seu perfil no facebook!


Cantando e Decantando “Paisagem da Janela”


Foto: Teresa Duarte – Flickr da autora

O que é um mito? Para que serve? Há quem diga que o mito engana, e que acreditar em um Zeus no Olimpo como os gregos, ou em um Deus-Sol como os índios das américas, é ser alienado da realidade, dos fatos concretos. O que é mais estranho: os mitos, ou os fatos concretos? Depois da relatividade de Einstein, dá pra falar em coisas concretas? E mais: quem disse que os mitos não são fatos?

Prefiro a definição de Joseph Campbell, que diz que “nos mitos, encontramos personagens que ressoam dentro de nós, e usamos os mitos para criar ordem a partir da nossa própria experiência1“. Obras de arte podem criar e recriar mitos, podem fazê-los ressoar em corpos, mentes, corações e espíritos.
Nessa ótica, os mitos da mineiridade tem muito a dizer para quem quer apreender tais significados. Mais que uma bela melodia assobiável, a canção “Paisagem da Janela” é um veículo de diversos mitos mineiros, e o fato de seu significado ser meio vago possibilita diversas e amplas leituras. Arriscarei a minha.
Da janela lateral do quarto de dormir
O quarto de dormir é (ou deveria ser) o espaço onde nos afastamos da correria do mundo. A merecida pausa para lamber as feridas. Um local de contemplação, de faxina mental, de sossego. Ali, as contas para pagar, os compromissos sem fim, a correria do trânsito, a barulheira e o caos urbano; são fenômenos que ficam para trás.
A vida é correr atrás de algo, ter metas, sonhar e tentar realizar. Mas também é contemplar, apreciar o esforço, parar pra respirar e observar. Sem o momento de reflexão, qual o sentido de tanta conquista?
Para muita gente, Minas Gerais representa isso: seu espaço bucólico, interiorano, rural, seria esse lugar de repouso, um refúgio no meio das cadeias de montanhas, de onde a gente pensa na vida em meio ao aroma do alecrim e do fogão de lenha, degustando um copo de leite fresco, pão de queijo e café passado na hora.
A vida aponta pra frente, como a seta da flecha. Mas o vento que refresca, vem da janela lateral.
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um vôo pássaro
Vejo uma grade, um velho sinal
Igreja, muro, grade, velhos sinais. Obras forjadas na pedra, por mãos humanas, mas que arriscam “um vôo pássaro”. Voam pela nossa mente, nos trazendo sinais de glória. Assim é o patrimônio: casas antigas, praças, ruas, calçamentos, a cidade. Assim como o sangue que nos é legado de geração em geração, o patrimônio nos fala de onde viemos. E em suas fissuras e vielas, podem também evocar profecias e dizer para onde vamos.
O patrimônio é identidade. A história é a liga que nos consitui enquanto seres sociais, enquanto pessoa inserida em um meio. Como diz o filósofo Ortega Y Gasset, “eu sou eu e minhas circunstâncias”.
Mensageiro natural de coisas naturais
Os mitos da mineiridade falam muito dessas tais “coisas naturais”. Como na canção de Nelson Ângelo, o mineiro tem “um gosto de fruta, um cheiro de mato, em meu (seu) pensamento2“.
Só o mensageiro natural pode falar das coisas naturais. Os “falsos profetas”, dos quais o apocalipse já alerta, surgem a todo momento, e querem vestir as maiores atrocidades como sendo coisas naturais. “A violência é natural”, brada um. “A pobreza é natural”, vocifera outro. “Compre isso”, “você precisa daquilo”, “faça desse jeito”, dizem os slogans publicitários.
A voz do vento, o reflexo das águas, a direção das labaredas: nada disso quer te convencer de nada. É o que é, é natural. São os genuínos mensageiros.
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal
Você não escutou
Será que a sociedade vem ouvindo esse chamado dos mensageiros naturais? O que foi feito depois das cores mórbidas das enchentes, dos tsunamis, catástrofes naturais, dos buracos na camada de ozônio, doenças do corpo e da mente? Quem são os homens sórdidos: os que fazem a tragédia, ou os que a ignoram o temporal? Não podemos dizer que não fomos avisados. É honesto admitir que nós não escutamos.
Você não quis acreditar
Mas isso é tão normal
Sim, é normal. O que é natural, pode não parecer normal para os olhos já empaturrados de informação processada, do excesso de dados culturais.
É preciso que seja dito o que, em tese, é tão óbvio: o natural é tão normal.
Cavaleiro marginal lavado em ribeirão
Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical
Seria um mito arturiano ressurgido nas Minas? Um membro de távola redonda ou irmandade religiosa; um Lancelot-tupiniquim-cristão-novo; lavado pela Senhora do Lago de Furnas; banhado pelo Ribeirão do Eixo de Avalon; que viveu mistérios insondáveis nessa Camelot-Gerais; configurado em senhor de engenho, casa e árvores; um trabalhador honrado e incansável?
Cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Conheci as torres e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios
Ou seria um Merlin; um demiurgo mineiro; um Viramundo; um décimo-terceiro profeta sem nome; maltrapilho errante; que em suas andanças através dos séculos pôde observar torres e cemitérios; e a ascenção e queda dos homens?
Quando olhava da janela lateral
Do quarto de dormir
Ao olhar da janela lateral, todos podemos assumir esses mitos que existem dentro de nós, como diz Joseph Campbell. Podemos ser os magos e guerreiros da nossa própria vida. Todos os sinos, cemitérios e igrejas de todos os tempos e espaços do mundo vivem em nós, em nossas moléculas, no pó de que viemos.
Não pergunte a ninguém por quem os sinos dobram: a igreja que você observa da sua janela lateral pode lhe responder.
*
Notas:
1 – CAMPBELL, Joseph. In: KELEMAN, Stanley. Mito e Corpo: uma conversa com Joseph Campbell. São Paulo: Summus, 2001.
2 – ÂNGELO, Nelson. JOYCE (intérpretes). Um gosto de fruta. In: Nelson Ângelo & Joyce. Disco. EMI Odeon: 1972.

Liz X Lisa: as musas opostas do ethereal

Música ambiente, new age, eletrônica e doses de indie rock: estes talvez sejam os ingredientes do ethereal, um estilo musical tão pouco difundido quanto instigante.
Também conhecido como dream pop ou darkwave, os artistas desse gênero fazem com canções o equivalente ao que impressionistas como Van Gogh ou Monet faziam na pintura. Suas marcas registradas são sonoridades esparsas, cheias de efeitos como reverb e delay, que prolongam as notas e dão uma idéia de largos espaços vazios, solitude, distanciamento do mundo material e cotidiano. Há também quem vincule o ethereal à música gótica (ou gothic rock).
Os dois maiores nomes do gênero são os Cocteau Twins e o Dead Can Dance. Apesar de se abarcarem sob as asas de um mesmo estilo, são duas bandas que me parecem muito diferentes. A começar por suas principais vocalistas, extremamente opostas entre si.
Liz Fraser
Liz Fraser, dos Cocteau Twins, tem algo de frágil, parece que vai se despedaçar caso alguém se aproxime dela com muita intensidade. Ao vivo, tal impressão é ainda maior, e há quem diga que sua aversão à apresentações e shows foi o que ocasionou o fim do grupo.
Por sua vez, Lisa Gerrard, do Dead Can Dance, transmite a idéia de uma mulher forte, imponente, indubitavelmente presente. Seu olhar é firme, e seu porte físico e figurino transmitem uma indelével personalidade. 
Lisa Gerrard
A imagem transmitida por essas musas ethereais diz muito sobre suas respectivas bandas. O Cocteau é música espacial, suave e quase que flutuante na maior parte do tempo. Já o Dead Can Dance tem um som predominantemente concreto, com percussões marcantes, quase tribais em alguns momentos (obviamente, o repertório geral de ambas permitem leituras mais profundas, e apresentam outras nuances, mas essas que apontei me parecem as principais).
“Carousel”, de Robin Guthrie
As imagens e sensações evocadas por essas sonoridades costumam agradar a quem tem relações sinestésicas com a música, ou seja, relações sensoriais, para além do filtro racional. Uma vez, um amigo meu comentou que, ao ouvir Cocteau, visualizava coisas que pareciam extraídas de um compêndio de medicina ou biologia, como células, moléculas, mitocôndrias, etc (alguns discos solo do guitarrista do CT, Robin Guthrie, tem capas com esse exato tipo de imagem). Totalmente diferente de mim, que costumo imaginar arquiteturas exóticas, cidades e luzes. Cada canção é única, mas a gama de sensações é tão vasta quanto forem os seus ouvintes.
Dead Can Dance
Ao rastrearmos as influências do som do Dead Can Dance, podemos perceber uma espécie de mistura étnica e multicultural, com ares de world music. É o equivalente musical ao conceito de “mestiçagem”, utilizado para as misturas culturais feitas por países latino-americanos – só que no caso deles funciona em nível global, apesar de uma interpretação meio que diáfana e psicodélica, ao modo ethereal.
O Cocteau Twins já evoca o oposto: parece uma banda quase que “aculturada”, uma banda de lugar nenhum. Isso graças a suas melodias de acento pop, além das timbragens etéreas o suficiente para situar seu trabalho longe de qualquer traço cultural reconhecível.
Cocteau Twins
Ainda sobre o CT, o fato de Fraser cantar letras ininteligíveis contribui muito para que a banda tenha sua aura inclassificável. Sim, é isso mesmo: as letras do Cocteau se resumem à sua sonoridade, e quase sempre são desprovidas de significado, como uma “torre de babel” às avessas. Por nada dizer, deixam ao ouvinte a tarefa, muitas vezes inconsciente, de imaginar possiveis sentidos; se quiser.
Atualmente, as musas retornaram, meio diferentes: muitos fãs não reconheceram Gerrard, que, apesar de trajar o figurino de sempre, fez uma cirurgia plástica nos lábios. Fraser, por sua vez, deixou os cabelos grisalhos se alastrarem. 
Trivialidades a parte, o aspecto musical continua ótimo, uma vez que Lisa voltou com o Dead Can Dance, lançando um fantástico album, Anastasis, e saindo numa turnê mundial com o grupo. Liz voltou aos palcos, e críticos elogiaram sua performance, comentando como sua voz soa intacta, e suas releituras dos antigos clássicos dos Cocteau Twins pareceram brilhantes. 
Fraser ao vivo no Meltdown Festival (06/08/2012)
Anastasis (2012), novo disco do Dead Can Dance

Garbage of Industry: reflexões sobre os videoclipes

12jun2012

A cantora Shirley Manson, do Garbage, declarou recentemente que a indústria da música se tornou um verdadeiro “dinossauro”, incapaz de se adaptar à realidade dos downloads e da internet. Tal fato, na visão dela (e na minha também) é positivo, uma vez que quem estava nesse negócio mais motivado por dinheiro que por uma espécie de “amor a música”, teve que cair fora.

Mas o estopim para que eu escrevesse o presente texto não veio dessa específica declaração, e sim de um comentário feito por um internauta em um site aí. De acordo com ele, os “mini-films independentes” que o Garbage fez das músicas novas do disco (imagino que ele está se referindo a isso) não se igualam aos videoclipes antigos da banda. Por isso, sua dedução é que eles hoje em dia seriam apenas “uma sombra do que já foram”.

Discurso perigoso, a meu ver. Acho que depende do ponto de vista do qual esse sujeito está olhando. Se enxergarmos da ótica da pompa e circunstância da indústria dos anos 80 e 90; sim, o Garbage (e mais um imenso contingente de bandas e artistas) são hoje em dia meras sombras do que foram. Mas numa era onde os videos caseiros e espontâneos tem mais acessos no you tube que os clipes megaincrementados de outrora, então a coisa muda de figura.

Vide os clipes atuais dos Foo Fighters, como White Limo (todo filmado em fita VHS) pra comprovar como a questão deve ser relativizada. Estou falando de um videoclipe do disco mais aclamado dos FF, e falando da que talvez seja a banda de rock mais aclamada da atualidade. Ou seja: quem aí está reclamando de que falta glacê no bolo, precisa se perguntar se seu paladar está de acordo com o que a maioria anda saboreando.

Sintomaticamente, uma das mais interessantes séries musicais da atualidade trata exatamente desse assunto. Em Video Killed the Radio Star (transmitida, no Brasil, pelo Multishow e pelo VH1), artistas de sucesso das décadas de 70, 80 e 90 comentam sobre o processo de produção e recepção de seus videoclipes mais famosos. Para nós, cidadãos dos anos 2010, esse aspecto revisionista é uma imensa prova de que o videoclipe megaproduzido não é mais um fenômeno revolucionário.

Sou fã de carteirinha do programa, e assisto até aqueles de cujas bandas nunca simpatizei muito. Logo nas primeiras edições que vi, tive logo de cara uma certeza: não tenho mais paciência pra me sentar num sofá, e dedicar meu tempo à assistir videoclipes. As únicas pessoas que conheço com tal disposição são gente que trabalha na área de produção de video. E, por isso, a tarefa de assistir clipes serve pra eles não só como inspiração, mas também como pesquisa. São raras exceções, porque no geral, assistir videoclipes parece ser mesmo é um convite ao tédio – por melhor que seja a música. Até mesmo os DVDs de videoclipes das bandas que tanto gosto estão aqui guardados, amargando mofo e desuso.

Estou falando sobretudo do que eu acho, mas ao falar de mim, acredito que estou falando de outros tantos fãs e consumidores, que também não tem mais saco pra videoclipes grandiosos. Os que parecem (propositalmente) mal feitos, talvez até sejam suportáveis pelo elemento da auto-ironia. Seu sucesso talvez seja justificado por causa das formas com as quais o público contemporâneo tem se identificado com seus artistas favoritos. Na nossa época de shows filmados em celular e fotos amadoras, não dá mais pra acreditar que nossos estimados ídolos só existem de verdade ali dentro das imagens luxuosas das películas e das requintadas fotos produzidas em estúdio.

Voltemos a declaração de Manson, que causou todo esse texto. Não obstante, é bom lembrar-se que a palavra Garbage quer dizer, em português, lixo, refugo, sobra. Assim, em vez de pensar que a atual encarnação independente da banda é uma sombra daquela que estava filiada as gravadoras, seria bom pensar se ela não estaria de fato mais próxima do que eles realmente representam: do espírito punk, rebelde, visceral, e sem compromissos com um verniz imposto por executivos que tem como único lema “vender”. 

Os clipes sempre foram um complemento mercadológico ao que realmente importa – música. E atualmente, estão voluntariamente assumindo novas formas, para o bem ou para o mal.

Fôlego, Paranóia, Tagarelice… Mineiridade

Se o facebook não é o equivalente a Ágora grega, reunindo os espíritos ansiosos por debates filosóficos e existenciais, pelo menos cumpre um pouco desse papel em nossa época. Tópicos que começam como debates informais, puro lazer de internautas, as vezes tomam proporções complexas, e podem até mesmo esboçar teorias que carregam algo de relevante.

Numa dessas discussões que, mesmo virtuais, flertam com algo do real, o amigo Renan Figueiredo lançou uma curiosa teoria sobre a estética da literatura recifense e mineira: Para ele, a marca registrada de grandes escritores do Recife seria o vasto uso de adjetivos, enquanto que literatos de Minas Gerais se caracterizariam por abundantes vírgulas ao longo de seus textos.

Entrei no espírito da teoria, lançando duas hipóteses pelas quais o escritor mineiro apresentaria essa fascinação com o recurso da vírgula nos seus manuscritos:

1) Fôlego: os mineiros estão acostumados; e os turistas sempre se espantam. Qualquer pessoa com instinto peripatético que resolva fazer um passeio a pé pelas ruas das cidades de Minas, irão se deparar com morros, morros, e morros. Não há preparo físico que resista a uns suspiros. Qualquer narrativa empreendida num desses passeios pelas colinas e montanhas da região será igualmente comprometida (assim como a qualidade do gado daqui, que tem mais osso e menos gordura pelo mesmo motivo). Minha teoria numero 1 sobre as vírgulas é que são uma representação narrativa da falta de fôlego, como um causo qualquer que se conta à alguém enquanto passeia pela cidade.

2) Noia: Mineiro não é só desconfiado dos outros, mas também tem medo da desconfiança alheia. Caso típico de projeção, desses complexos dos quais Freud já tratou há quase um século. Secular é também a fama de “bom moço” que os mineiros tem, sabe-se lá porque. Os livros de história tem versões contraditórias para os mesmos fatos, os discursos destoam da prática. O mineiro parece propenso a se justificar, mesmo quando não fez nada de errado. A vírgula, nessa minha teoria número 2, é uma representação das brechas dentro do discurso, onde o mineiro insere suas frases feitas que tem, como unico intuito, vender um peixe muito mais generoso que o pescador.

Por fim, pedi perdão pela prolixidade nos comentários, algo que vai na contramão do que alguém chamaria “boas maneiras” nos foruns da internet (leia-se “favor não transformar o aspecto descontraído da rede em longas teorizações, metafísicas transcendentes, e afins“). Entretanto, me perguntei se essa não seria outra característica literária do mineiro, além das vírgulas: compensar na escrita o silêncio desconfiado do cotidiano.

Para quem se interessar, veja aqui a discussão na íntegra do fórum original:

Pintura Digital

Essa é uma pintura digital que fiz no Opencanvas, e dei de presente para os amigos Felipe e Michele. 

Foi algo quase etéreo ou surreal realizar essa pintura de tons azulados, enquanto ouvia Cocteau Twins… acho que viajei por umas trocentas dimensões!

Notícia urgente

Olá pessoal! É o seguinte, esse é o último post desse blog. Estou fechando ele, pois não pretendo escrever nem desenhar aqui tão cedo. Aliás, larguei pra lá essa história de quadrinhos.

Passei num concurso no Amapá, pra trabalhar numa universidade chamada FACOLA, assumindo dois turnos diários… agora é só ralação!

Obrigado pela atenção em todos esses anos, e um grande abraço para os amigos que ficam em Minas, e de outros lugares!
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Notícia (trote) de primeiro de abril, na verdade continuo por aqui e desenhando como nunca!

Abração!