Mais do que as experiências passageiras, como colônias de férias ou paqueras de verão, esses anos todos de vida universitária tiveram uma profunda influência na minha visão de mundo. Comecei a prestar mais atenção em alguns detalhes do cotidiano que eu ignorava, e, além de notar, tentar estabelecer conexões entre eles e uns tantos outros assuntos e ideias. Surgiu aí também uma chatice, de querer tornar complexo até mesmo fenômenos que nem sempre o são – efeitos colaterais de se pensar demais.
Passei a ter uma relação mais séria também com o que acontece fora das salas de aula. Um compromisso com as coisas boas da vida, e o desejo de cumprir as tarefas de maneira satisfatória, de ser presente quando é necessário.
Talvez eu tenha pago um preço por isso, na perda da espontaneidade de outrora, substituída por uma autoconsciência e uma definição do que me cabe ou não fazer. Lembro de Paul McCartney dizer, em uma entrevista, da diferença do Elvis Presley antes e depois do exército. Ao retornar a carreira, “the pelvis” parecia mais ensaiado, havia em seu olhar algo de hesitação, além da composição de um personagem que pudesse figurar bem nas fotos. Nada diferente das caretas e gestos exagerados do próprio Paul, hoje em dia – o que, dada a beleza da versão madura de McCartney, mostra que o processo não é tão negativo quanto parece.
Acho que, em certa medida, a vida adulta necessita de máscaras; mas se é para vestí-las, que sejam verdadeiras, que possam exprimir alguma verdade sobre nós mesmos. E, na verdade, a perda da espontaneidade de antes seria, não uma perda, mas apenas um eixo que precisa ser apertado novamente. O que é a vida senão um palhaço de quermesse, que equilibra os pratos girando sobre varetas, sorrindo?