Uma breve análise da capa Mestres do Terror n. 75

Mestres do Terror nº 75

A revista Mestres do Terror é uma das publicações de terror mais longevas do mercado de HQs brasileiro. Originalmente editada por Rodolfo Zalla através da Editora D-Arte, circulou entre 1981 e 1993, sendo retomada em 2015 pela Editora Ink&Blood, e editada até os dias atuais.

Nesse breve texto, farei uma análise da capa da sua edição de número 75. Começo afirmando que a imagem parece plenamente enquadrada nos parâmetros das capas de literatura pulp, em que personagens da cultura de massa são representados por pinturas de uma estética “clássica”, mais alinhadas com tradições iconográficas realistas (renascença, pré-rafaelitas, etc.) do que com o impressionismo.

Mas seria um erro caracterizar essas imagens como sendo estritamente realistas, pois, além da frequente recorrência de personagens com elementos fantásticos, a anatomia dos corpos retratados é quase sempre exagerada. Geralmente, as figuras masculinas tem evidenciado o seu físico destacado, enquanto as mulheres mostram boa parte do corpo e são representadas em poses sensuais. O maior representante dessa tradição pulp no exterior é Frank Frazetta. No Brasil, autores como Eugênio Colonesse e Júlio Shimamoto fizeram também muitas capas desse tipo.

De todo modo, é possível destacar que a capa da Ed. 75 de Mestres do Terror traz uma imagem pintada digitalmente, visto que as texturas apresentam uma definição com nuances que a pintura analógica nem sempre alcança. Além de que a pintura tradicional acaba exibindo uma textura própria da superfície em que a arte foi feita, seja tela, papel, madeira, etc. Essas imagens muito “lisas” quase sempre são digitais.

O acabamento da imagem é excelente, em um alto nível de profissionalismo, e pode se dizer que uma imagem dessas não faria feio em uma eventual capa de publicação no mercado norte-americano ou europeu.

Apesar das criaturas pertencerem ao folclore brasileiro, essa imagem não apresenta um traço que dialoga com a iconografia popular do Brasil – mais ligada à arte naif, à xilogravura, dentre outros gêneros (quase sempre oriundos de um cânone religioso). Por outro lado, é preciso destacar que, no Brasil, já temos muitas décadas de tradição de ilustrações no contexto da indústria de massa que remetem aos cânones norte-americanos ou europeus (e, de uns vinte ou trinta anos para cá, até ao Mangá).

O Brasil teve um fecundo mercado autoral de literatura e quadrinhos de horror que operou paralelamente ao auge do horror norte-americano, por exemplo. E ilustradores brasileiros como Shimamoto, Watson Portela e Flavio Colin não devem nada em termos de originalidade ou acabamento aos melhores ilustradores gringos.

Por fim, destaco que a representação das entidades mitológicas amazônicas acaba sendo enquadrada de maneira extremamente harmônica ao padrão típico da iconografia pulp, e por isso é possível afirmar que temas dessa natureza são capazes de agradar perfeitamente a um público estrangeiro em potencial.